sábado, 5 de dezembro de 2009

O regresso do fascismo a Itália

"Mussolini nunca matou ninguem. Apenas enviou os oponentes de férias."
Roma, 2 de Dezembro de 2006. 2 milhões de pessoas na rua. O som de fundo são gritos contra Romano Prodi, primeiro-ministro italiano na altura. Os gritos calam-se, e sobe ao palco um senhor "sorridente, cabelo postiço, sapatos de salto alto". Quem? Berlusconi, e a sua nova "contratação": Alessandra Mussolini, neta do ditador italiano, que gere um grupo onde figuram personalidades que afirmam que o Holocausto não existiu e que Hitler foi um grande estadista.
Berlusconi, esse, sorridente acena uma bandeira da Chama Tricolor (um grupo neofascista, por coincidência...) legitimando-se por um punhado de votos. Punhado de votos da extrema direita, que garantem a vitória a Berlusconi, e que guardam uma percentagem "confortavel" de lugares no parlamento. Este é o ponto de partida para uma historia de racismo, xenefobia, discriminação e ódio ao outro por ser "diferente" que tem como actor principal Giancarlo Gentilini e como ponto de partida o assassinato, em Verona (presidida por Gentilini, e depois por Flavio Tosi), de um estudante que se recusou a dar um cigarro a um grupo de jovens neofascistas.
Tanto Gentilini e Tosi são figuras ilustres em Itália. O primeiro, orgulha-se de ter feito desaparecer arrumadores, mendigos, e falsos vendedores, e afirma não ser Xenófobo, mas odiar ciganos, prostitutas e burlões. O segundo, orgulha-se de ter expulsado os ciganos de Verona, por perturbarem a beleza do centro da cidade.
Ciganos estes que sofreram uma perseguisão, tal qual Hitler e os Judeus, com direito a censo da população cigana, destruição de comercio e barracas, condenações judiciais sem provas, placas a dizer "Rom" (nome "verdadeiro" da etnia cigana), entre outros, que reduziu o numero de ciganos para 35 mil, dos 165 mil de 2008. Gentilini, esse, deitou mais achas para a fogueira: lançou uma "limpeza étnica de maricas"... Tudo isto perante a indiferença europeia...
Berlusconi decidiu fazer algo mais: legalizar patrulhas de cidadãos, denominadas de justiça "fai da te" (justiça fazes tu). Mais uma vez, Gentilini vem dizer das suas: "Bastava-lhes encontrar alguem com cabelo comprido que atacavam-no à pancada. Quem não se veste como nós, não come o mesmo, não fala com o nosso sotaque, ofende o decoro da cidade." Sempre oportuno este sujeito. Talvez isto suceda em Itália porque não existiu um "julgamento de nuremberga" para o fascismo.
Não quero terminar esta noticia sem antes repudiar o facto desta discriminação a ciganos, estrangeiros, homosexuais e todas os grupos de pessoas "diferentes", mas que não deixam de ser humanos, acontecerem, perante uma Europa cega.
A Itália não é só Roma, Pavarotti e Vaticano. Esta ameaça é real, e é necessário, antes de tudo, apercebermo-nos que pode-se alastrar ao resto da Europa. Mas receio que só nos apercebamos quando já for tarde demais...

6 comentários:

S.N disse...

Será que vamos regredir uns anos atrás e assistir a uma nova regressão do demoliberalismo?


Será que esta crise de consciência, este pessimismo e descrença no avanço tecnológico e a forte crise económica, que está por todo o mundo é o grande impulsionador de todo este acontecimento?

Que está a gerar em Itália uma vaga de medo e terror?

Ou foram pequenas raízes fascistas e ficaram a fomentar durante estes anos e a preparar uma nova investida arrasadora?

Podemos colocar imensas questões relativamente aos últimos acontecimentos em Itália nestes últimos anos, são várias as hipóteses, mas nada existe em concreto excepto os acontecimentos reais e brutais que são visíveis.

Violência, discriminação sem precedentes e com base em ideologias que se pensavam “mortas e enterradas” e que neste momento estão a causar o terror, o medo, o pânico em todas as pessoas.

S.N

Anónimo disse...

o que é que se passa com as pessoas? o que é que se passa com o mundo? depois de séculos, sim, séculos a gritar por liberdade, igualdade e direitos em comum para todos (pelo menos falando pelo lado ocidental), vemos, aos poucos (ou secalhar nem tanto aos poucos) estas conquitas desvanecer, perderem-se por aí, algures, alguém as esqueceu, talvez, talvez nós.

é mais do que questionável como, nos dias de hoje, se aceita uma política que, aparentemente (e mais do que isso), é exclusivista e direccionada apenas para alguns. excluíndo assim minorias, esquecendo que as pessoas são TODAS diferentes na sua igualdade, dizendo que o maior atentado à dignidade humana do séc. XX afinal é mentira, não existiu. como? como é que, no seu perfeito juízo, alguém é capaz de negar tal acontecimento quando as provas ainda existem, quando ainda há pessoas que vivem traumatizadas com o que se passou perante os seus olhos?

"A Itália não é só Roma, Pavarotti e Vaticano.", como o João S. disse isto em relação à Itália, eu digo em relação a Portugal "Portugal não é o país dos três Fs, Fátima, Fado e Futebol". somos europeus, estamos na UE e, à nossa frente temos uma ameaça, um insulto à liberdade humana.

"Somos filhos da revolução
Somos burgueses sem religião
Nós somos o futuro da nação Geração Coca-Cola."
Legião Urbana

já em 1986, os Legião Urbana nos ditavam o futuro, não nos vamos deixar ser a "Geração Coca-cola"...


Regina

Anónimo disse...

Berlusconi, Capo della Mafia.

"O fascismo tem vindo a ganhar força no governo italiano." – Jornalista Italiano

Berlusconi é um conhecido chefe de estado de direita , adepto de políticas anti-democráticas e de manobrar a seu belo prazer as mafias.
É verdade que, socialmente há um campo aberto para o neofascismo pois, a crise económica tem gerado um clima de descontentamento e pessimismo entre a população.

Mas...
Depois do terror pelo qual os nossos “avós” passaram , não se aprendeu nada? Como é que se permite a subida ao poder de alguém que vai contra tudo aquilo por que se lutou durante séculos, a igualdade?
Será que a história se repetirá outra vez?

A discriminação, a violência, o terror e o pânico estão de volta. Estes, podem expandir-se para o resto da Europa , mesmo para o nosso “cantinho” isolado.


“Mas receio que só nos apercebamos quando já for tarde demais...”


Inês Almeida

Anónimo disse...

sandra ...
Será que a "velha Europa", berço
da nossa dita civilização ocidental, está prestes a perder o juízo de novo?
Mais do que a afirmação de uma ideologia estão em marcha politicas, visando a perseguição a grupos étnicos minoritários em Italia. Estou a espera de uma reacção de algum país contra o que se tem vindo a passar em Itália, Em pleno seculo XXI sera possivel e imaginavael que a "Europa Antiga" retorne?

Anónimo disse...

Milhões de pessoas a lutar pelo liberdade e igualdade e agora existem vestigios de que o fascismo está de regresso a Itália. No fundo, de que serviu esssa luta ? De que serviram os progressos tecnológicos quando tudo parece voltar ao que era ?`
É impressionante como deixaram Berlusconi chegar ao poder sabendo quais são os seus ideais e correndo tamanhos riscos de prejudicar essas ditas minorias. O que se passa em Itália é puro racismo, de gente sem escrúpulos e que tem poder suficiente para fazer a diferença.
Pergunto-me a mim mesmo, como é que isto é possivel no século XXI ?!

Fernando Magalhães

Unknown disse...

Antes de esboçarmos qualquer comentário relativamente às políticas ou à postura do senhor Berlusconi, é vital que façamos um esforço mínimo para entendermos o cenário político em Itália e a mentalidade da maioria dos italianos.
Em Itália há actualmente dois grandes partidos de coligação: o Partido da Liberdade(ironia ou não) de Sílvio Berlusconi, que representa a "destra" política italiana, e o Partido Democrata, uma coligação que junta as grandes forças políticas da chamada esquerda em Itália.
Ora caros colegas a coligação de centro-direita colheu nas eleições legislativas nada mais nada menos do que 47% dos votos, resultado que lhe permite governar em plena maioria e sozinha. Uma coligação onde se encontra a Liga do Norte, um Partido político que apregoa a tomada de posições contra emigrantes islâmicos ou provenientes da Roménia e de cariz racista mas ao qual os italianos conferiram nada mais nada menos do que 9% dos votos!
Como colocar agora a questão de que o senhor Berlusconi é o responsável por uma pseudo-onda de violência contra algumas minorias? Não, os culpados dessa violência são o grande número de cidadãos italianos que a apoiam, que votam nela, que a desejam ardentemente e que conferem poder aos Partigos que a prometem legitimar.
Críticar o Governo de Berlusconi é criticar a própria instituição que é a democracia, é fechar os olhos perante a vontade expressa pelos italianos e revela um paternalismo que é preciso censurar e que não fica nada bem às restantes democracias da Europa.
Para além disto, se o Governo de Berlusconi é o grande mostro que pintam como explicar a estrondosa vitória nas eleições regionais? Eleições em que os Partidos do Governco tendem a obter derrotas, e onde até o tal Partido racista, a Liga do Norte teve um resultado histórico.
Caros colegas, a Itália está longe de representar o fim da democracia actualmente, apenas representa a sua essência. Os cidadãos fazem uso do seu voto para expressar a sua vontade, mesmo que essas vontades representem posições que nos choquem. Devemos por isso mensoprezá-las e menorizá-as? Afinal quem são os antidemocratas aqui? Nós ou os italianos?
Nunca nada é o que parece e Sílvio Berlusconi é tudo o que parece e o que os italianos querem que ele seja. Um novo César! Avé!