terça-feira, 10 de novembro de 2009

Crença espiritual leva albinos à morte na Tanzânia



Na Tanzânia, indivíduos sofredores desta mutação genética, são caçados, esquartejados, sofrendo mortes dolorosas, devido à crença existente na cultura tanzaniana, de que estes indivíduos possuem características místicas e que, por isso, trazem sorte àqueles que adquirem um pedaço dos seus corpos.
Os seus caçadores procuram essencialmente dentes, línguas, braços, pernas e órgãos sexuais, sendo estas as partes mais valorizadas, chegando a atingir os três mil dólares, como conseguimos apurar pela notícia em questão.
A partir desta notícia, conseguimos encontrar, também, os fins dos fragmentos a que os corpos vendidos advertem, nomeadamente, os seus cabelos usados em fios de pesca, de forma aos pescadores terem sorte na pescaria; os mineiros usam amuletos feitos a partir de ossos, com a fé de terem a sorte de atraírem diamantes; os órgãos genitais promovem a performance sexual; e, talvez o mais chocante de todos, os compradores que conseguirem beber sangue de um “zero-zero”, nome popular dado aos albinos, terão, diz-se, a sua sorte multiplicada.
Posto isto, a questão em causa recai, certamente, na dignidade humana. Ou na falta desta, pois, só agora, e, pela primeira vez, estão a ser punidos à forca caçadores praticantes deste acto completamente longe dos conceitos de ética e de todas as possíveis e imaginárias declarações dos direitos do Homem já assinadas.
O responsável do recente movimento de consciencialização para este gravíssimo problema é dado pelo nome de Peter Ash, albino nativo do Canadá, fundador da ONG “Under the Same Sun”, que tem feito pressão e campanha na Tanzânia, com o intuito de haver controlo face a esta situação.


Pedro Rosas
Nº 14, 12ºE

Fonte: link da notícia

11 comentários:

Anónimo disse...

esta é, sem dúvida, uma situação mais do que chocante (pelo menos para o povo ocidentalizado).

em pleno séc. XXI, ainda existem situações em que a dignidade humana é mais do que esquecida, é totalmente abusada. O direito à vida, talvez o "mestre" do direito natural, é posto em causa e de uma forma para lá do imaginável.

Neste caso, no meu entender, nem se pode pôr em causa as supostas tradições do povo/comunidade em questão, há direitos invioláveis e o direito à vida é, claramente, um deles.


Regina M.

Inês Francisco Jacob disse...

O Homem é um animal. Mas o Homem não poderá nunca ser um animal quando causa, ao próprio Homem, crueldades que os animais, os que julgamos irracionais, são incapazes de cometer. O Homem arranca o marfim dos paquidermes, e o mesmo Homem desgruda a pele das focas. O Homem cospe para os Oceanos e deita pó para a atmosfera. O Homem derruba árvores, o Homem finda rios e começa arranha-céus. O Homem tem mais preocupação em desenhar armas que sorrisos.
E isto é assim, é a verdade. Agora...de entre tantas atrocidades desumanas, digam-me, é possível que, em pleno século XXI, na Era das tecnologias e da informação mais veloz que a luz, (na Era em que os países por mais milhas que os dividam, estão todos próximos), na Era em que nos devíamos unir e recuperar tempos de outros tempos, e curar, de todo, o Mundo, sejam ainda praticadas estas perseguições? Estes assassinatos? Estes crimes? Estas barbaridades? A resposta é clara – Sim!
...

Inês Francisco Jacob disse...

Um albino sofre. Sofrerá sempre. A diferença deixa um gosto amargo e azedo nas bocas dos iguais. O Homem não entenderá nunca as diferenças entre os homens enquanto não souber respeitar a igualdade, e praticá-la. Devidamente. Os albinos são perseguidos porque assim se julga melhorar aspectos como a virilidade, a eficácia profissional, a sorte, quer no amor, quer no ódio, quer na vida, afinal. Porque assim se pensa chegar mais longe?
Atenção: Tirar a vida a alguém, para assim subir mais alto? Portanto, os albinos são trucidados e distribuídos como amuletos? Como porta-chaves? Como milho para pombos? Pensa-se que um dente de um ser albino trará felicidade, mas que raio? Por mais crenças que se tenham, por mais tradições que se queiram ver prosperar, por mais religião que se siga, que se pratique, isto vai a favor de fé alguma? De dignidade alguma? Ninguém vingará na vida se possuir pedaços humanos de um albino. Lamento. E o que os albinos têm de errado? A pele é a mesma. O coração bate. Têm dedos e língua. Cabelo e sonhos. Como qualquer HUMANO! A pigmentação é outra, sim. E daí? Existem tantas cores, por todo o lado, que isso devia ser motivo de festejo e júbilo, e não o oposto. Ninguém escolhe como nasce. Ninguém escolhe nada daquilo que nos diz respeito, a nível físico, (só mais tarde, e nem sempre, mas isso é outra história). Mas é possível, ouçam, é possível escolher o que causamos, e igualmente possível causar o que escolhemos. O que fazemos e o que não fazemos. O que deixamos por fazer e o que optamos, mal, por fazer. Não quero saber dos mitos. Não quero saber das curas. Não quero saber do que acham os caçadores, os clientes, os cúmplices, os impostores, os culpados. Exijo justiça. Total e franca justiça. «Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos». Se assim é, então interpretemos literalmente esta citação. Se assim é, se somos iguais, e se o sabem, que acção é esta? Se somos iguais, porque não se automutilam? Porque não arrancam maxilares e dedos e unhas e leiloam a alguém? Sim, eu sei, isto é ridículo, e é disparatado, mas de facto, esta situação não o é também?
É desesperante. Que raio de barreira invisível mas que, no entanto, nos cobre os olhos por inteiro, sendo simultaneamente opaca, é esta, que nos resguarda do Mundo? Vai sendo altura de fechar os punhos e ao invés de esmurrar alguém, esmurrar as decisões, as terríveis decisões, e erguer a dignidade, tão (pro)fundamente enterrada...

Note-se outro relevante aspecto ainda não mencionado: Os albinos sofrem desumanidades também entre a própria comunidade, ou seja, para além de serem mais procurados que ouro e que a fonte da juventude, pelos tanzanianos, pelos nativos dos países em questão, entre outros, um pouco por todo o lado, sofrem desrespeito, intolerância, maus-tratos, etc., pelos ‘iguais’. Em muitos países africanos e em comunidades africanas noutros continentes, os albinos são, maioritariamente, excluídos da Sociedade, excluídos do lar, excluídos da família, da escola, do emprego. Porque se o racismo existe entre branco e preto, nada garante que não exista entre preto e preto albino. (Lamento os termos grosseiros).
Vai sendo altura de respirar outro ar.

Inês Jacob.

Inês Francisco Jacob disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
J.S. disse...

Tás desculpada Jacob.

Não bastava nasceram com alterações genéticas, ainda são alvo de busca.
Será que eles (os governantes, que só agora começaram a punir estes actos) não teêm olhos na cara? Têem, apenas preferem mante-los fechados. Dá-lhes mais jeito...

Edward disse...

Esta noticia é particularmente interessante. è sem dúvida um atentado á individualidade e ao direito á vida. Como é que alguem pode acreditar que um ser humano, com caracteristicas especificas, pode trazer sorte? Como é que há seres humanos que matam outros por acharem que estes sãoo seres místicos e que o seu sangue, ou os seus orgãos podem melhorar vidas? Albinos são seres humanos, bolas. Como disse anteriormente a Jacob, e passo a citar,"o homem é um animal", incapaz de ter noção do sofrimento que causa a outros seres humanos que tal como eles, têm direito á vida. São procurados, são esquartejados, são mutilados, tendo basicamente que se refugiar para defender a vida que é deles por direito. É triste mas é uma realidade.É uma realidade recente e que tem que ser parada o mais rápido possivel.

Há que ser consciente e usar a cabeça, pois estes seres humanos não merecem sofrer.

Ana Mateus disse...

É mesmo impensável que, actualmente, ainda existam pessoas que sofrem e são sacrificadas por outras por não corresponderem a um suposto padrão. É mesmo inaceitável que os albinos sofram tanto por serem “diferentes”. É simplesmente horrível a utilidade que as pessoas encontram nos pedaços humanos dos albinos, principalmente pensando que estamos no século XXI, em que a informação atravessa fronteiras com enorme facilidade. Como é possível que estas tradições perdurem num mundo supostamente globalizado, em que grande parte da população mundial tem conhecimento dos seus Direitos? Num mundo em que existem inúmeras organizações, governamentais ou não, que lutam pela garantia desses mesmos Direitos? E já agora, onde estão esses Direitos de que falo, completamente violados, nestes ocasiões em que o que seria errado é visto como certo? Como é que é possível que os albinos sejam privados da sua própria vida e do direito à dignidade humana? Sinceramente não consigo compreender. Não faz sentido. Matar e sacrificar pessoas para dar sorte? Impensável. Servir-me dos seus órgãos como amuletos? Inconcebível. Faz-me mesmo muita confusão.
No entanto, fico feliz pelo facto de estes assuntos começarem a ser abordados e por se começar a lutar contra estas práticas horrorosas.

Nídia disse...

"o quê?!"
Esta foi a minha reacção quando, naquele dia na aula, me apercebi que este tipo de barbaridades (ainda) existem... Só de pensar no sofrimento causado àquelas pessoas fico horrorizada. Não fazia ideia que este tipo de coisas existia. Como é possível alguém, no seu perfeito juízo, organizar uma "caçada" a seres humanos apenas por serem diferentes. Quem, a sério quem, é capaz de matar, torturar, humilhar, tirar a dignidade a um ser humano, com base numa mutuação genética? E pior, utilizar os seus orgãos como amuletos! Que tipo de pessoa anda com um braço de um albino no bolso para dar sorte? No meu mundo existir algo assim é impensável.
No entanto, o meu mundo é uma realidade bem diferente da realidade na Tanzania. Os mais conservadores,diga-se de passagem os mais primitivos,seguem as tradições á risca, e na Tanzania, aquela crença é mesmo levada a sério. A culpa deste horror todo acontecer naquele país, não é só dos "primitivos", mas também dos lideres governamentais que fecham os olhos ao desrespeito pelos Direitos Humanos. Secalhar, se dessem mais atenção ao seu povo, se se importassem realmente com os seus problemas e garantissem a defesa dos Direitos Humanos, nada disto teria acontecido e muitas vidas teriam sido poupadas...
Bem haja Peter Ash, que nos alertou para este problema, esta realidade tão distante e ao mesmo tempo tão próxima.

Anónimo disse...

"Imagino que para lidar com as diferenças entre nós e as outras pessoas, temos que aprender compaixão, autocontrole, piedade, perdão, simpatia e amor - virtudes sem as quais nem nós, nem o mundo, podemos sobreviver." -Hendell Berry

glau disse...

"Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade."
Este é o principio mais básico da Carta Universal dos Direitos Humanos da ONU. Onde está o Estado neste momento?!Como é possivel que ainda haja situações destas, que violam os direitos naturais de uma pessoa desta forma tão bárbara? Os albinos já sofrem por terem essa deficiência genética e ainda são submtidos a isso?
O povo africano é muito superticioso, mas daí a mexer com a vida humana, já tem outro nome: assassino! Matar pessoas porque, pela sua falta de pigmentação da pele, dá sorte... é um crime tenebroso! É UMA VERGONHA esse tipo de coisas acontecer á frente dos olhos do Governo e pouco ou nada ser feito! tráfico de orgãos já é um acto vergonhoso e fazê-lo para dar sorte então...!
Fiquei sem palavras ao ouvir essa noticia pela voz do colega João, e sinceramente, fiquei envegonhada por ser africana, mesmo sabendo que Angola apesar de ter costumes supersticiosos, não chega a tanto!
Quando eu era mais nova, tinha medo dos albinos, por serem " diferentes" e em Angola diziam que os albinos conseguem tudo o que querem e que podiam prender uma pessoa a eles só pelo olhar...eu ficava apavorada! Hoje,depois de mais de 10 anos no Ocidente, vejo-os, (ainda com um pouco de medo confesso) mas com muito respeito porque eles são apenas diferentes na cor e em algumas limitações devido á pigmentação...mas de resto, é o mesmo que um angolano e um português, o mesmo que um cigano e um chinês, o mesmo que alemão e um guineense. Todos são humanos, mas apenas tem uma raça diferente...que tem isso? NADA!Aos olhos de Deus somos da mesma carne, tudo igual, o resto...o resto é extra!Discriminação para e porquê?! PAZ e AMOR. xd's

Raquel disse...

Quando ouvi pela primeira vez esta notícia fiquei completamente perplexa, não imaginava ser possível sequer a existência de crenças espirituais capazes de levar à captura e ao desmembramento de indivíduos, sendo o mero objectivo atingir a sorte.
Como é que é possível que na Tanzânia, em pleno século XXI não haja uma pequena noção das liberdades fundamentais e dos direitos inalienáveis, inerentes à condição humana?
As crenças espirituais não se podem sobrepor, de forma alguma ao direito à vida e à liberdade individual.

Na minha opinião esta crença demonstra ausência de " cultura ", visto que as suas diferenças são resultantes de modificações genéticas e, se os crentes, por ventura tivessem conhecimento, acredito, que possivelmente mudariam de opinião e repensar iam duas vezes, antes de consumirem o seu sangue para obterem mais prosperidade ou antes de usarem os seus ossos para fazer amuletos.
Não quero de forma alguma violar o direito de liberdade de um qualquer indivíduo ao dizer que esta crença é sinónimo de ausência cultural, pois todos temos o direito de acredita no que queremos. Apenas quero corroborar o facto de que existem direitos inalienáveis que não podem ser transgredidos.
Todos têm a liberdade de crer numa pessoa, num objecto, num dada situação, mas desde que essa crença não interfira com nenhum direito ou liberdade fundamental, principalmente quando este direito é o que diz respeito à vida.